O programa foi sucesso de março a junho, com colaboradores e audiência fieis. Em junho C. retornou ao balneário mostrando que quem é loser mesmo não fica longe de casa. A audiência rareou e o que antes era virtual começou a ser por telefone para poupar a tendinite (losers!), uma coisa meio programa de rádio: "Alô? Tá em casa nessa sexta-feira? Não pega ninguém mas dá cada olhada? Seu cartão de ônibus não passou? Pagou cofrinho ao catar o cocozito do cachorro na rua? Stalkeou a vida alheia no Facebook durante o expediente no trabalho? Recebeu aquela cutucada e acha que ele está a fim de você? Tá levando a vodca na garrafinha para tomar com refrigerante para poupar dinheiro? Pintou só o dedão do pé para aparecer no peep-shoe? Bem vinda! Você é uma de nós."
Até aqui boa parte é ficcional, mas a vida imita a arte, e eis que as últimas semanas têm prodigalizado um festival de loseronismo. C. viajou novamente e foi parar em um hotel onde rolava umas gincanas para gente que escreve de maneira criativa, e eu fui a um festival literário à beira-mar sem ela, pela primeira vez. Durante duas semanas sofremos intensamente pela separação de um casal que, literalmente, nunca vimos mais gordos. Nós nos sensibilizamos, trocamos mil SMS e maldissemos o amor – "Bandidos! Como fizeram isso com a gente?Acreditavamos na historinha!" Eu voltei e ela continuou por lá. Chorei baldes com comédias românticas de quinta categoria, encontrei uma amiga cujo relacionamento acabou: ele é judeu e ela goy, outra que está em crise por conta das escolhas profissionais, e mais uma cujo namorado não suportou tanta libertinagem de comportamento. Sem falar na Z., que me presenteia todo café da manhã com relatos sobre sua separação, e de como ela não quer mais homem algum na vida. Ouvi tudo com interesse, dei minhas opiniões com parcimônia, ofereci lenços e cedi meu ombro enquanto pensava se minha nova pasta de dente White now! ia fazer um serviço bom ou não (loser, loser). No sábado decidi deixar de lado essa minha verve perdedora e sair com a amiga não judia. Me arrumei, coloquei um salto, dancei aquela musica preliminar “tô gata” na frente do espelho. Liguei para confirmar a programação, e ela disse: “Vai de preto que a festa é alternativa”. ATENÇÃO para palavra alternativa. “Alternativa como?”, “Ah... gente moderna e interessante”, me disse ela. NEON PISCANDO para palavra gente moderna e interessante. “Ok”, pensei – “me arrumei e vou me divertir”. Ok? Claro que não. Loser não merece ter noites com 100% de aproveitamento, e por isso cai em um evento übber gay onde me vi dançando George Michael seguido de Mc Sapão, o que foi divertido, mas, francamente, não era bem para eu estar ali. Mesmo sendo simpática à causa, não foi para aquela "clientela" que saí de casa. Eu só queria dançar e não pensar muito, mas naquele espaço abarrotado eu me sentia uma bizarra no ninho. Qual uma viagem estranha de ácido onde tudo estava trocado, liguei para uma amiga que convidou: “Vem para um bar punk em Copacabana chamado Orgasmo!” Pensei: “É hoje que vou chorar no táxi ouvindo Sade ou Simple Red , enquanto praguejo contra meu caminhar sobre a Terra”. Estava indo para o Orgasmo bar quando recebo outra ligação da tal amiga dizendo que era caído e que todo mundo estava voltando para casa de um amigo que já tinha dado PT faz tempo. Fui para casa do amigo, com aquele clima fim de festa pairando e pude acompanhar, sentadinha no sofá, uma discussão acalorada sobre se um dos camaradas presentes, que momentos antes defendia o uso das sandálias Croc como sinalizador de: "Acabou tudo para mim, tô velho!", deveria ter jogado fora, ou não, o enfeite do bolo do casamento (separados há 2 anos) que nada mais é que um casal de Hello Kitty com a carinha dos noivos. Todo mundo estava sóbrio o suficiente para não emitir qualquer opinião e/ou juízo, e eu olhei para porta esperando que o Steve Buscemi aparecesse. Seria legal se ele estivesse ali com a gente. Decidimos ir para um boteco próximo, que teoricamente estava inaugurando, mas que na verdade ainda nem entrou em reforma e somamos ao grupinho mais alguns perdidos na noite (ref. Jon Voight). Sentei no boteco, pedi uma pizza, tomei uma coca, já estava enjoada (L-O-S-E-R), quando me vi em um debate acirrado sobre se o leilão de sêmen bovino e o Medalhão Persa são, ou não, bons programas de tv (ref. Cães de aluguel). Não me lembro porque o papo mudou, mas de repente todo mundo estava tentando fazer brincadeiras idiotas com as mãos e eu decidi, sábia, porém tardiamente, ir embora. No táxi, não tocou Simple Red, mas tocou Across the universe e minha vontade de morrer atingiu grandes picos.
Hoje C. voltou dizendo que nunca mais entrará em nenhum programa de incentivo que tenha gincana, e eu fui agraciada com fotos públicas do ex namorado (recente) mordiscando umas moças - Nhac!. “Ok”, pensei eu, mais uma vez. "Hoje é só segunda-feira". Ainda ouvi que eu deveria ser mais esclarecida , escrito com uma ortografia muito louca. Protestei (Loser língua afiada, pior espécie). Ato continuo fui submetida a um bombardeio emocionante de SMS's infrutíferos e só pude concluir que não sou mesmo esclarecida. É cada erro que cometo nessa vida, a começar pelos atentados contra o português.
Por ora vou me encontrar com outra amiga, tá difícil e eu não me sinto bem, sabe-se lá o que me espera. Pelo menos sei que não volto de táxi, é logo ali na esquina, e sei também que 2012 (ufa!) está ai e eu só quero vê-lo chegar vestindo um pijama e vendo "Amélie Poulain": Loser encontra Loser, se casam de forma loser, e têm losers babies.
C., não podemos antecipar o TTTL dessa semana?
C., não podemos antecipar o TTTL dessa semana?
7 comentários:
também quero um TTTL!
TTTL é tudo de bom. precisamos adiantar. E aumentar a periodicidade. Adorei, amiga. Viva o TTTL.
Hahahahhaha. Lindo texto Bel. Nothing's gonna change my world.
Putz, sensacional. Na hora do Steve Buscemi me escangalhei de rir. Botei o Népenthès como Destaque da quinzena no MixLit,
bel, que maravilha. sempre gostei do seu jeito loser. Continue assim, que você vai conquistar o mundo.
ge
será o destino dos losers serem winners?
Acho que sim, Leo. Todo winner foi um loser em algum ponto e momento. Acho que a essência loser é uma fagulha que dispara a criação winner. Agora, é claro, que poderíamos ponderar filosoficamente que o que é winner para alguns talvez seja loser para nós e o que é loser para alguns talvez seja o ápice do winner para nós.
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