quinta-feira, 31 de março de 2011

Les beaux sauvages

Ou que os olhos se recusam a ver.


" É importante insistir neste ponto, já que parece tão difícil aceitar que possa haver uma forma de grandeza na negatividade. Normalmente, a única perfeição admitida é a das alturas. O céu da divindade. Ora, pode acontecer que esta tensão para o alto não corresponda à prática social. Daí a necessidade de descer às profundezas da vida. De vincular- se a esse abismo negro, o da animalidade que dorme em cada um, da crueldade também, do prazer e do desejo, coisas que não deixam de fascinar, mas que costumam ser compartimentadas, e são toleradas apenas nas obras de ficção.
 Acontece, para o melhor ou para o pior , que este espírito animal voltou ao primeiro plano da cena social. Não, como já expliquei, numa simples regressão, mas de acordo com uma atitude de "regrediência", a da implicação que integra o arcaico, o primitivo, o animal humano, e sem "superar" tudo isto. "Regresso", "ingresso", pouco importa o termo que pode ser empregado; basta insistir no fato que seja possível penetrar, entrar (ingresso) na inteireza da natureza humana sem rejeitar-lhe esta ou aquele parte. É isto o "espírito das feras" que encontramos no pensamento fourierista, é isto a ultima ratio dos sentidos, do sensível que não projeta sua completa realização em hipotéticos amanhãs." - Michel Maffesoli - A parte do diabo - Ed. Record


Hipotéticos amanhãs..... (bonito que só) 




















3 comentários:

VW Nonno disse...

Bel, esses filmes me fazem chorar muito. Meu primeiro trabalho de repórter foi sobre o Jardim Zoológico e eu dizia que as feras ficavam do lado de cá, as das jaulas eram doces, e as selvagens estavam soltas. Achei que todo o mundo ia achar ridículo, mas não acharam. O título foi algo como "Difícil é o bicho homem". É assim que me sinto,ainda hoje. Esses selvagens ou pseudo animalescos são doces. São os humanos que os cercam os monstruosos. É o ser humano pleno, vigoroso, andante, senhor de si, narcísico, quem faz mal aos outros e a si. E não há jaulas, chicotes ou panaceia que dê conta dessas aberrações.

Jeanne Duval disse...

Mãe, esses filmes também me fazem chorar muito. Existem aquelas pessoas que a medicina vai investigar para provar por todas as vias que há um problema. Porém, existem aquelas cuja forma é perfeita, só que a mente não. Para esses também não existem jaulas, porque teoricamente fazem parte do coletivo humano. Neste caso, procura-se semelhantes para que haja uma troca e um conforto de viver e sentir fora do padrão.

Faço (sempre) minhas as palavras de meu muso: << Le beau est toujours bizarre. Je ne veux pas dire qu'il soit volontairement, froidement bizarre, car dans ce cas il serait un monstre sorti des rails de la vie. Je dis qu'il contient toujours un peu de bizarrerie, de bizarrerie non voulue, inconsciente, et que c'est cette bizarrerie qui le fait être particulièrement le Beau. »

celeal disse...

Bel,
Quase que fiquei mudo, sem palavras. Despido de mim. Porque as palavras me vestem, nem sempre com o melhor de mim mesmo, mas de qualquer forma, com alguns andrajos que roubo da vida. Os humanos-seres vestem roupas suntuosas da intolerância, da xenofobia e do radical fundamentalismo do Outro, mas esquecem-se que tudo que é imaginário é fadado à queda se não for sustentado por uma palavra que seja solidária ao mais íntimo do ser-no-mundo...
De uma beleza sensível teu blog. Ilumina-me. :)