domingo, 20 de março de 2011

Domingos

De olhos abertos vejo você em vários lugares. De olhos fechados sonho com você todas as noites. Porém, é nos finais de semana,quando a casa está vazia, que idealizo meus melhores dias com você (meu doce Frankenstein). Posso afirmar que é bom viver o que eu imagino, e dizer, até, que é bonito. A maior vontade do filho único é compartilhar. Não é dividir, não é fundir se tornando uma só pessoa, é ver o outro chegar na sua vida pelas portas certas do consciente e do inconsciente e, assim, fazer morada, criar um mundo, com direito a rede e temperos na varanda, onde só duas pessoas têm a chave para entrar.
No meu mundo, que só eu habito, acordo ao seu lado e sem te dar bom dia conto com riquezas de detalhes tudo que sonhei. Você me olha, e, mudo me faz um cafu. No banho, jogo água nos seus olhos por causa de uma piada idiota sobre o excesso de ungüentos que eu tenho dentro do box – nossas pastas de dente são distintas, não gosto da sua. No restaurante você ri porque adoro cardápios, e gosto de ordenar o que você vai comer só para ter o prazer de escolher diferente, dessa forma sinto paz por saber que vou pegar um pouco do seu, caso não goste do meu. Aos domingos escolhemos nossos programas por aquela brincadeira do papel, onde um escolhe um número e outro, de posse de uma espécie de boca que abre e fecha, conta até parar. Deixo contigo a escolha de uma das quatro cores que surgem. Uma vez por mês celebramos dias de reis com direito a coroa e rosca com presente dentro. Gravo cds de surpresa e coloco na sua bolsa para você ouvir no trabalho, e você, em contrapartida, pega meus livros e sublinha a lápis trechos que eu vou gostar. Fico especialmente emocionada quando descubro que você lavou meus óculos por achar inconcebível ver o mundo de maneira tão suja.  Combinamos de sair separados com nossos amigos, só para ter o mórbido prazer de nos encontrarmos no final da noite e dizer quantas pessoas se interessaram por nós, e renovar nossos votos de você é meu e eu sou sua. Você odeia porque durmo nos filmes que eu mesma escolho, e eu não suporto a sua mania de deixar os sapatos virados para baixo (a mãe morre! digo todas às vezes, quase chorando). Em um passeio de bicicleta voltamos para casa com um triângulo e um agogô, cuja única função  é chamar um ao outro em forma de repente.
De todas as coisas que a gente faz bem, existe uma que se sobressai... bem, talvez mais de uma... de todas as coisas, acho que o silêncio confortável que temos é a maior delas. Com você ao meu lado eu não preciso falar nada, eu só sinto, e tá tudo bem.

Algumas fotos do nosso álbum imaginário:



O potpourri  nonsense da nossa vitrola imaginária:

Goldfrapp - Number one + The National - Beautiful head + Thelonious Monk - Misterioso +  Manu Chao - Tristeza Maleza + Van Morrison - Sweet thing + Girls - Morning Light + David Bowie - Nature Boy + Lady Gaga - Alejandro +Marilyn Manson - Tainted love +  Lou Reed - Satelitte of love + Devendra Banhart - Santa Maria da feira + Caetano Veloso - Nine out of ten + Vinicius de Moraes - Samba da benção + Flogging Molly - Seven deadly sins + Stereo total - L'amour à trois + Edward Sharpe and Magnetic Zeros - Om nashi me + Metallica - Whiskey in the jar + The Velvet Underground - After hours + Serge Gainsbourg - Bonnie and Clyde + Animal Collective - Lion in a coma +  Blonde Redhead - Here sometimes + Chris Isaak - Wicked games (sempre).


* Inspirado no filme Amélie Poulain (ululante e menininha - às vezes é bom lembrar que se é uma). 


** Fotos de: @ papertissue,  @ Mermaids are flying, @ Serpent Skirt, @ papelrowls, @follow the colours, "amantes da ponte neuf", Ryan Mc Ginley e Gordon Ball.

4 comentários:

Catarina disse...

assim vc acaba com minha alma romântica!

VW Nonno disse...

Identifiquei vários "pedaços" do seu Frankenstein. Louro,com piercing, e por aí vai. Sempre me surpreendi por não haver, de fato, um padrão. Ou há...?

Jeanne Duval disse...

Aqui tem louro, moreno, careca e cabeludo. Rei, ladrão, polícia e capitão. O padrão de boa parte é não compreender o todo, e concluir: maluca. Um dia esbarro com a exceção por ai... a galopes, tão perdida quanto eu. Enlaço (hi ho silver) e corro para o arêrê. Vai ser incrível.

Dissolvida disse...

acho que todos tem um frankenstein em suas cabecinhas.
o meu cada dia é de um jeito... ai, geminiana confusa e cheia de duvidas, não consigo decidir qual jeito prefiro. rs