
- Gênesis 2:23 - 25
Em uma mesa de bar, três amigas conversam sobre suas desventuras amorosas. Idade diferentes, gostos opostos, histórias que quando saem das nossas bocas se tornam banais, mas que dentro de nós tomam proporções avassaladoras, a ponto de fazer a gente se olhar no espelho, e conseguir ler as legendas desse filme de terror em nossos olhos. No meio de um papo entrecortado, com relatos distorcidos, uma delas diz: "acontece que a pele não esquece". Essa foi uma das frases mais eróticas e verdadeiras que ouvi recentemente. Como racionalizar o que é instinto? Não há método Pavlov, adestramento, ou lobotomia que faça você refrear o tesão. De todas as coisas possíveis de serem feitas para neutralizar uma má experiência amorosa, acredito que essa seja uma missão das mais difíceis. A tarefa se torna ainda mais árdua se isso for uma das poucas certezas e conexões estáveis entre duas pessoas (vale para relação heterossexual, homossexual e que tais). Ocorre, de quando em quando, o tesão sustentar uma vida a dois sem amor, é um pacto selado e guardado, onde ninguém nunca vai entender, os próprios agentes não entendem, é um acordo de total submissão e dominação. É na cama que toda a diferença se transforma numa face quase obscura, onde tudo é permitido, tudo é despudorado e ao mesmo tempo infantil ( não há nada mais inocente do que ficar pelado). Outras vezes existe o amor, mas nosso lado animal não está presente. Essa conjuntura fatídica faz do término um sofrimento longo e penoso. Como eu, ser humano, abro mão de alguém que amo por conta do meu lado animal? Jack London mostra bem essa dualidade de pensamento em "O chamado da floresta". A gente só é verdadeiro se escuta nossa natureza animal, é nela que encontramos as forças motrizes de nossas vidas: sobreviver, comer, reproduzir e dormir.
Mas tudo isso é porque estou lendo "O Jogo de Amarelinha", livro muito indicado por várias pessoas. Cortázar tem um jeito latino de amar, como nós, e no capítulo 5 ele deixa isso bem claro:
"Era como um despertar e como conhecer o seu verdadeiro nome; depois, voltava a cair numa zona sempre um pouco crepuscular que encantava Oliveira, receoso de perfeições, mas a Maga sofria de verdade quando regressava às suas recordações e a tudo o que obscuramente precisava pensar e não podia pensar. Então, ele tinha de beijá-la profundamente, incitá-la a novas brincadeiras e ela, reconciliada, voltava a crescer debaixo dele e o arrebatava, entregando-se, então, como um animal frenético com os olhos perdidos e as mãos torcidas, mítica e atroz como uma estátua andando por uma montanha, arrancando o tempo com as unhas, entre gemidos e queixumes que duravam eternamente. Certa noite, a Maga cravou-lhe os dentes, mordendo-lhe o ombro até sair sangue, pelo simples fato de ele já estar um pouco cansado, um pouco perdido, o que resultou num confuso pacto sem palavras".
Para quem quer saber mais, vale a pena ler o capítulo na íntegra.
Deixo como sugestão de trilha sonora, um monte de mujeres que cantam, em especial a primeira música:
Soft Shock do Yeah Yeah Yes
AF607105 da Charlotte Gainsbourg
Noir Désir do Vive La Fête
Para ouvir e suspirar, pensando naquele (a)(s) que já nos fizeram gemer.
** Uma homenagem a esse bicho erótico bobo sonhador que se chama mulher**
*** Foto do Blog Vagabond Set***
2 comentários:
bel, eu amo vc. #prontofaleidenovo
:)
beijo da K
é... a gente mais que ninguém sabe que a pele não esquece. mas o resto a gente trabalha para que esqueça e sem amigas como vcs seria tudo mt mais difícil.
bel, eu amo vc. #prontofaleidenovo2 rsrsrsrsrs
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