
Faz aproximadamente uma semana, coloquei aqui um trecho de Folhas de Relva, do poeta americano Walt Whitman. O trecho que escolhi é lindo, achei a referência em um blog mulherzinha, ele sintetiza, de forma poética, tudo que eu gostaria de ter escrito. Postei, mas dois dias depois apaguei, por achar que era uma superexposição dos meus sentimentos, ou pior, a forma como eu distorcia as coisas que eu lia, estava aqui às claras. Só que fiquei com este post na cabeça, não queria apagá-lo. Ele era sofrido, simplório, mas carregado de sentimentos aos quais o simples apertar "publicar postagem" trazia a sensação de dever cumprido.
No domingo passado, fui à casa da minha amada vizinha, me despedir dela. Esta iniciou uma relaçãozinha, pós festa do Momo, com um rapaz que manda e-mails para ela, e ela por sua vez, me pede interpretações cibernéticas. O rapaz em questão, usando da incrível arte do galanteio cult virtual (espécie de dança do acasalamento como nos primórdios das civilizações, hoje em dia ocorre com as palavras, só quem dança são os neurônios, e ninguém acasala), mandou um trecho do livro da Clarice Lispector: A paixão segundo G.H. (Mérito da vizinha inteligente que leu a pequena frase e touché disse não só qual era o livro, como mais um pouco teria dito a página). Fiquei ruminando mentalmente aquela frase e decidi ir direto à fonte. Por não ser um livro grande, cataloguei- o como ideal para ônibus, e hoje, na volta para casa, dei início aos trabalhos. O rapaz tinha razão, a escrita de Clarice é bem feminina, mas o impressionante não é isso. Talvez, se tivesse lido em outro momento este livro, eu fizesse outras alusões, talvez fizesse outras conexões, e talvez, porém bem provável, não tivesse trazido à tona algumas lembranças recentes, cujo exercício de superação se tornou uma rotina nos últimos meses.
Com a mesma foto que tinha o post de semana passada, com o trecho de Walt Whitman, e com a capacidade sintética e cirúrgica das palavras da Clarice, aqui te sepulto (é o segundo sepultamento neste blog, mas esse é doce, e até mesmo feliz. Não passa de um simbolismo sem rancor), com uma pá com o mais puro e corrosivo cal, uma coroa de flores belíssima que prometo trocar sempre, e um epitáfio que fecha uma porta e abre ao mesmo tempo uma janela: "Aqui jaz uma fantasia bonita, uma fuga da rotina, um devaneio divertido. Aqui jaz um sonho que não se materializou, e não se tornando matéria e nem tão pouco carne, segue, colorido como neón, para a vida eterna, onde o céu é o limite, e onde espero o recomeço. Até."
E agora deixo a palavra dele:
2 comentários:
Bel, que bom a flecha deste epitáfio se direciona a abrir uma janela! Uau, lindo post.
Gegê.
parafraseando eugênia: Uau, lindo post. e me parece que agora vem um final feliz que na verdade (se é que a verdade faz sentido) é um recomeço feliz.
e a vizinha com suas divagações sobre emails de rapazes e outras coisas da vida faz uma falta danada.
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