sexta-feira, 26 de março de 2010

No fim do corredor só escuridão, ou eu não te amo mais e já sabia

Em 2008 encontrei o homem da minha vida. Depois de terminar um namoro de cinco anos, fui parar em uma aula bem longe, e naquele espaço sagrado da sala de aula, em contraste com o quadro branco, estava ele - o homem da minha vida. Durante quase um ano, eu o respirei, pensei nele, na nossa vida, nos nossos e-mails, filhos, louças e cobertas. Não havia dúvida: encontrara o meu amor eterno. Mesmo não dando certo, mesmo sendo platônico, mesmo sabendo que na verdade ele era uma piração minha, nada tirava da minha cabeça que era dele o meu coração. Este blog guarda muito daquele sofrimento de querer e não ter. Em março do ano passado ele se foi, nossa relação inexistente tinha chegado ao final, e eu tive que administrar a quantidade de amor produzida e não usada que estava no meu estoque. De março até julho, almocei, jantei e lanchei amor não correspondido, mas com a certeza que ia acabar, que ia passar, porque sempre passa. Março foi a última vez que nos vimos, eu, como sempre, com a melhor roupa que uma aluna pode usar, ele com o distanciamento que um professor deve ter. Na vida real vestíamos bem nossos papéis sociais, na internet, no gmail mais precisamente, a coisa era um pouco diferente. O tempo passou, eu nunca mais o vi. Às vezes pensava no que ele estaria fazendo, e achava curioso o fato de nós nunca nos encontrarmos nessa cidade que nem é tão grande. Destino, acredito eu.

Ontem enquanto andava pelos corredores da Universidade, olhava as portas e pensava nas opções que cada porta daquelas escondia. Cada número na porta era um pequeno simulacro do saber e da escolha. Foi nessa olhada, na porta ao lado da minha sala, que quem estava lá, de pé, superior e contrastando agora com o quadro verde de giz atrás? O homem da minha vida. Olhei, dei um sorriso, e voltei para minha carteira, mas já pensando nos planos dissolvidos, no aperto do peito que eu sentia há um ano atrás, no vazio de olhá-lo através de um vidro sujo com um e-mail de formandos fixado no meio da testa. Até que no intervalo nos esbarramos no corredor. Nós nos cumprimentamos, ele falou dele, como sempre, e seguiu caminho. Meu coração não bateu mais forte, minhas pernas não bambearam, não senti a secura na boca . Não consegui ser agradável, não consegui olhar no olhos dele, só via o pescoço curto que faz com que a barba e os pêlos do peito se juntem formando uma maçaroca capilar - ah, como eu amei essa maçaroca. Ele seguiu pelo corredor, eu continuei no meu lugar inabalável, imóvel, sem ver o deslizar dele pelas portas. Em uma fração de segundos vi o homem da minha vida seguir em frente, e vi uma vida que não me pertence mais, seguindo ao lado, em passos rápidos, rumo a não me interessa aonde, exceto que ao final dessa trajetória não há luz. Porque passa,sempre passa, e novas vidas surgem e novos homens para preenchê-las também.

Daquela vida passada você continua sendo Rei. Na verdade, não foi você que saiu dela. Fui eu.



2 comentários:

Dissolvida disse...

a arte de superar um antigo amor e mudar de vida e deixar ele lá naquela outra vida.
lendo isso me deu esperanças de que logo em breve eu vou ter superado totalmente o meu!
muito bom, super!

Leonardo Villa-Forte disse...

Cara, me emocionei, sério mesmo. Lindo texto Nonneca, me deixou com o coração na mão, você devia fazer mais isso.
bjs!