Estou sufocada e saudosa. Estou sufocada por tudo aquilo que plantei e acreditei, estou sufocada pelas minhas escolhas e pela minha própria vida. Estou saudosa de todos os planos que me fizeram levantar e ir em frente, e que logo depois foram para a gaveta e de lá nunca mais saíram. Preciso reformular tudo, preciso parar e ver quais caminhos trilhar, preciso ter menos certezas. Trilhei um caminho de acertos, tal qual João e Maria com pedaços de pão; olho para trás e não acho que valeu tanto assim. Aos 27 anos, carrego uma vida bem vivida e digna: trabalhos, estudos, viagens, vez ou outra, namorados e minha família. Aos 27 anos, porém, não sei no que me tornei e não sei aonde quero chegar. Aos 27 anos, acordo de supetão todo dia de manhã e sinto uma vontade incontrolável de gritar, de morrer e nascer de novo, de fazer tudo diferente, ou de não fazer nada, só fugir dessa minha rotina. Meus dias passam e sinto que não vivi, postergo decisões e descreio das minhas próprias escolhas; não acredito em mim na verdade, e sinto um terrível desconforto diante dos meus atos, palavras e emoções. Cinco anos de análise não me fizeram me conhecer melhor, ou talvez sim, mas ainda não tenho a menor ideia de quem sou. Entendo o mecanismo, mas tô longe de enxergar a essência. Se pudesse me definir hoje com uma palavra, ela seria medo.

** Foto de paperissue : Queria estar nesse balanço encarando de frente a imensidão da vida.**
Um comentário:
Capa da Magazine Litteraire: "São as certezas que enlouquecem". Ou seja, onde existe a dúvida, existe o caminho. É o socratiano "só sei que nada sei".
Postar um comentário