Esses dias, logo após ter visto "Inquietos" (Restless, 2011) do Gus Van Sant, fiquei pensando sobre as tradições japonesas, tema que me interessa, talvez por ter alguns nipônicos na família. Fascinada com o fantasma Hiroshi, me lembrei do autor Yukio Mishima, que cometeu um yokoku na década de 70.
Até onde eu sei e pesquisei, Mishima era de uma família tradicional no Japão da Segunda Guerra e por motivos de saúde não pode se alistar no exército japonês. Decepcionado, seu pai o mandou estudar direito, mas Mishima, que na verdade se chamava Kimitake Hiraoka, já tinha começado sua carreira literária assinando seus livros com o pseudônimo que o fez conhecido. Ao desistir do direito, seu pai disse que só o aceitaria como escritor se ele fosse o melhor do Japão.
Com a morte de seus amigos na guerra, Mishima sentiu o peso de não ter tido uma morte digna defendendo seu país. Adotou um estilo de vida que nomeou de Sol e Ferro, cuidava do corpo obstinadamente, e mesmo casado, tinha relações homossexuais (na verdade, o culto a beleza e a descoberta do homossexualismo se deu ainda jovem, ao ver uma imagem de São Sebastião), que não escondia da sua esposa. Obcecado pela morte honrosa que não teve, em 1966 faz o filme: Yokuko or The rite of Love and Death. Quatro anos mais tarde, finalmente realizou o ritual de passagem, na frente de várias pessoas. A tradição do yokoku diz que logo após a abertura lateral no ventre, a mulher tem que cortar a cabeça para que ela não penda, e assim seja concluído todo o ritual com louvor e dignidade. Se não me engano, inicialmente ele pediu para mulher participar, mas essa declinou, o que o fez optar pelo namorado e deixar um amigo de sobreaviso, caso esse desistisse. Mishima levou sua honra e patriotismo às últimas consequências, e deixou uma série de livros bons. Gritemos Banzai!
Um comentário:
Banzai. Muito.
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