sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Rainha de Copas & Valete de Espadas

       Quando batia o desespero,  as dúvidas e incertezas. Quando não era possível encontrar uma justificativa, ou motivo, para explicar o porquê de ver você por toda parte, de empurrar o cardápio em sua direção como se estivesse ali, de procurar sua mão no ar para atravessar a rua e apontar para vitrines apagadas, busquei algum suporte que pudesse acolher um pouco da minha necessidade de acreditar nos pequenos e frágeis sins que você foi deixando pelo caminho.
      Nesta busca, encontrei um oráculo virtual, onde toda noite, de banho tomado e dentes escovados, pronta para dormir e esperar a boa nova na manhã seguinte, eu escrevia em um inglês mequetrefe a pergunta: "Vai dar certo?". Escolhia o Tarot de Marseilles e o jogo Relationship. Durante anos as respostas para as 7 questões eram dúbias. Eu atribuía a falta de sucesso da minha consulta cyber-holística ao fato de minha cadeira não ser confortável, de minha coluna não ser ereta o suficiente, de meus pés não estarem calçados e, acima de tudo, da minha concentração ser precária.
    Acreditando no site-guru, ou não, quando houve a chance de dar certo, não deu. A verdade, porém, é que: mesmo com pequenos e fragéis sins é possível se construir um universo de sonho que é mais forte que qualquer não declarado. Diante da realidade, que se mostrou tão dura, só me restava de banho tomado e dentes escovados, pronta para dormir e esperar a boa nova que talvez, quem sabe, surgisse na manhã seguinte, perguntar (em inglês) ao meu oráculo: "Vai ter volta?". Como se nada tivesse acontecido, escolhia o Tarot de Marseilles e o jogo Relationship. As respostas para as 7 questões permaneciam dúbias, evasivas, impassivas à ação dos fatos ocorridos. Diferente dos primórdios das consultas, eu não tinha no que, ou em quem, colocar a culpa.
   Durantes os anos de consultas quase diárias, entre Imperatrizes, Papas, Torres e Rodas da Fortuna, o Tarot sempre mostrava a ação do tempo, não aquele do relógio, do calendário, do dia-a-dia coninha, mas daquele outro do qual sentimos o peso quando respiramos bem fundo. Como se um dia, tudo aquilo que em mim doia pudesse cessar, ou pelo menos parasse de latejar.
   Não me lembro quando foi a última vez que recorri ao ocultismo 2.0 para tentar achar, para não dizer enxergar, sentido em situações declaradamente fracassadas, mas hoje, depois de um pileque celebrativo à tarde, meu ipod tocou "How it Ended" e o percurso de volta para casa foi permeado de reconstruções em cima  da por assim dizer "pergunta". Essa noite, de banho tomado e dentes escovados, pronta para dormir e esperar a boa nova que sempre chega de algum jeito, no dia seguinte, abri o Facade, e diferente das outras vezes perguntei em bom português: "Por que acabou?". Eis que pela primeira vez nesses 5 anos obtive 7 respostas definitivas para a pergunta mais vazia já formulada:

- A carta no alto a esquerda representa como você se vê (8 de espadas): Dificuldade de lidar com a realidade. Solidão. Incapacidade de enxergar os problemas, podendo aumentá-los. Mente criativa que afugenta. Passional.

- A carta no alto a direita representa como você vê ser parceiro (O mágico- invertido): Traiçoeiro, enigmático, alto poder criativo muitas vezes desperdiçado. Uso do conhecimento, da beleza e habilidade para coisas erradas. Abuso. Conexão demasiada. Aprisionamento em si mesmo. Emoções incompatíveis.

- A carta no centro a esquerda representa como você se sente em relação ao seu parceiro (10 de paus): Alívio. Amarras. Eterna gratidão. Desenvolvimento interior. Receio, incompreensão, impulso e não reconhecimento de si.

- A carta no centro a direita representa o que se interpõe entre você e seu parceiro (Rainha de copas): A essência do ar, não deixando criar vínculos maiores. A ideia do perfeito e impossível. Incapacidade de afeto real.

- A carta  no canto esquerdo representa como seu parceiro te vê (Força): Força, capacidade de reconstrução e entendimento. Vitória depois do medo. Aprisionamento, fora do controle, passional, tendenciosa para divindade e tentações. Escorregadia. Perdão.

- A carta no canto direito representa o que seu parceiro sente em relação a você (Rainha de espadas): Curiosidade persistente, mistério, fatalidade e descontrole. A chave da natureza intuitiva e lógica. Percepção e curiosidade. Confusão, decepção e dificuldade de compreensão. Insegurança. Encontro de ventos de igual potencia em sentidos contrários.

- A carta no centro representa o presente status da relação ou desafio da relação (Rei de Copas): Natureza indecisa e insegura. Poder físico e falta de coragem. O que parece inocente e casual disfarça traição e vaidade.

E, para terminar, a parte que eu mais gosto: a dificuldade de lidar com a mediocridade da história vivida e o eterno medo de ser esquecido.


Um comentário:

Eugenia Ribas Vieira disse...

Bel
"mesmo com pequenos e fragéis sins é possível se construir um universo de sonho que é mais forte que qualquer não declarado"
Obrigada a sabedoria.
Um beijo
gê.