quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Papel, fumo, comida e um pouco de uísque.

(Dois trechos de uma mesma entrevista de William Faulkner em Nova York, no início de 1956 para a revista: A arte da ficção 12)

A arte tampouco tem a ver com o ambiente; não faz diferença para ela onde estiver. Se você se refere a mim, o melhor emprego que já me ofereceram foi o do gerente de um bordel. Na minha opinião, é o meio perfeito para um artista trabalhar. Dá a ele perfeita liberdade econômica; ele se livra do medo e da fome; temum teto sobre a cabeça e nada para fazer a não ser controlar algumas contas simples e ir uma vez por mês pagar a polícia local. O lugar é tranquilo durante o dia, que é a melhor hora do dia para trabalhar. Há vida social suficiente à noite, se ele quiser participar, para evitar que ele se entendie; ele ganha certa proeminência na sua sociedade; não tem nada para fazer porque a madame cuida do livro-caixa; todos os habitantes da casa são do sexo feminino e vão obedecer a ele, chamando-o de "senhor". Todos os contrabandistas de bebida da área o chamarão de "senhor". E ele poderá chamar os policiais pelos seus primeiros nomes.
Portanto, o único meio ambiente de que o artista necessita é qualquer paz, qualquer solidão, e qualquer prazer que ele consiga obter a um preço não  muito alto. Tudo o que um ambiente errado fará é aumentar sua pressão sanguínea; ele passará mais tempo sentindo-se frustrado ou ultrajado. Segundo minha própria experiência, as ferramentas de que preciso para o meu negócio são papel, fumo, comida e um pouco de uísque.

...

Fiquei surpreso, porque tinha esperado receber do estúdio primeiro um aviso oficial ou uma convocação e um contrato. Pensei comigo mesmo, o contrato está atrasado e chegará no próximo correio. Ao invés disso, uma semana depois recebi outra carta do agente, com o cheque do meu segundo pagamento semanal. Isso começou em novembro de 1932 e continuou até maio de 1933. Até que recebi um telegrama do estúdio. Dizia: "William Faulkner, Oxford, Miss" Onde você está? Estúdio MGM". 
Respondi com outro telegrama: "Estúdio MGM, Culver City, Califórnia. William Faulkner".
A jovem operadora perguntou: "Onde está a mensagem, senhor Faulkner?". Eu disse: "É só isso". Ela continuou: O regulamento afirma que não posso enviar um telegrama sem mensagem; o senhor tem que dizer alguma coisa". Então demos uma olhada em algumas amostras, e escolhemos não me lembro qual - uma dessas mensagens enlatadas de feliz aniversário. Enviei-a"

Foto de Lisette Model

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