O ato de presentear, não importa se de maneira digital, material, feito manualmente, me encanta. Fico especialmente feliz quando não tem data especial envolvida. A excitação que a dúvida gera: " será que vai gostar? " me agrada. Acho delicioso ficar escolhendo, de olhar para uma coisa e bingo! Gosto de imaginar que só eu daria aquele presente, porque só eu conheço o gosto do presenteado, ou a referência que o presente faz. Estou tão acostumada a dar, que receber é sempre uma surpresa boa, que me desnorteia e me faz ficar retornando ao presente várias vezes para tirar o máximo de proveito dele.
Esses dias ganhei um presente desses simples, mas que valem ouro: veio em um envelope pardo, com post it na capa identificando origem e destinatário, já que ele foi deixado estrategicamente debaixo de uns papéis na mesa de ladyboss. Por causa dessa localização suspeita achamos que ele tinha sido extraviado para outro departamento, quem sabe não tinha ido parar na divulgação? ou no comercial? 5 dias depois ele chegou em minhas mãos, e só então pude ver o conteúdo que era nada mais, nada menos, que uma xerox!
Eu adoro xerox, ainda mais que elas agora são sempre subversivas depois da lei que proíbe fotocopiar livros. Além disso, me lembra estudos, textos que me diziam que eram edificantes, e que muitas vezes não eram. Me lembra também marca texto, e setas para todos os lados. Só a xerox me permite sublinhar, anotar e rabiscar como se não houvesse amanhã. Porém, não era só uma xerox, era uma xerox de um texto de Stendhal chamado "os privilégios", que esta presente na Revista Serrote número #10, aquela que eu desisti em cima da hora de ir no lançamento, que tinha procurado na livraria do bairro na semana anterior mas tinha acabado, e que tinha prometido adquirir quando vencesse a preguiça e subisse os 8 quarteirões que me separam do IMS. Com um papel preso por clipe, Swimming, também conhecida como Running, ou Ju para os mais puristas, dizia as palavras mágicas de qualquer presente " lembrei de você ". Este post é uma forma de agradecer a ela, e como homenagem (ou o presente do presente) seleciono 4 artigos, que acho que ela curtiria, sendo um deles sublinhado pela própria que não teve dó e o fez direto na revista. Eu só espero que tenha sido a lápis.
Artigo 3:
A mentula à maneira do dedo indicador, no que diz respeito à dureza e ao movimento, ambos sempre ao bel-prazer. Quanto à forma, duas polegadas maior que o maior dedo do pé, mesma grossura. Mas prazer para a mentula apenas duas vezes por semana. Vinte vezes a cada nao, o privilegiado poderá se transforma-se na criatura que bem quiser, ele saberá por vinte e quatro horas a língua que bem quiser.
Artigo 4:
Milagre. O privilegiado levará um anel num dos dedos; ao apertá-lo enqaunto olha para uma mulher, esta caíra de amores por ele, com a mesma paixáo que se atribui a Heloísa diante de Abelardo. Se o anel for só molhado com um pouco de saliva, a mulher será apensa uma amiga terna e dedicada. Se o privilegiado olhar para a mulher e tirar o anel do dedo, cessarão os sentimentos inspirados em virtude desses privilégios. O ódio transforma-se em benevolência quando ao mesmo tempo se olha para o ser tomado de de ódio e se esfrega o anel contra o dedo. Esses milagres não poderão se dar mais que quatro vezes a cada ano para o amor-paixão, oito vezes para a amizade, vinte vezes para a anulação do ódio e cinquenta vezes para a sugestão de simples benevolência.
Artigo 5 (o que recebeu uma seta):
Cabelo bonito, dentes excelentes, pele boa, nunca aáspera. Odor suave e leve. Em I de fevereiro e I de junho de cada ano, as roupas do privilegiado voltam a ser como eram na terceira vez que as usou.
Artigo 6:
Milagre. Aos olhos de todos que não me conhecem, o privilegiado terá as formas do general De Belle, morto em Santo Domingo, mas sem nenhuma imperfeição. Saberá jogaer perfeitamente o whist, o écarté, o bilhar, o xadrez, mas não poderá jamais ganhar mais do que cem francos; saberá atirar com pistola, montar a cavalo e esgrimar à perfeição.
Um comentário:
"as roupas do privilegiado voltam a ser como eram na terceira vez que as usou" - já penso como seria mágico?
Presentes fora de época são mesmo muito gostosos. Quem não gosta de surpresas é ruim da cabeça.
E viva o correio alternativo!
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