Hoje acordei diferente de ontem. Não muito diferente, nem dá para perceber a olho nu, todavia, diferente. Ao me levantar, no horário padrão das terças-feiras, me dei conta que hoje não estou sentindo saudades. Não me lembro quando foi a última vez que isso me aconteceu, meu modo operacional é naturalmente saudoso. Normalmente eu sinto falta do meu avô que nesta vida não vejo mais, sinto saudades dos tempos do colégio, e do movimento pendular 570/569. Sinto falta dos meus amigos que não vejo como gostaria, por conta do tempo, que está mais escasso para os encontros fortuitos. Sinto falta do que não vivi, mas acreditei piamente em algum momento que viveria, dos planos não concretizados, e daqueles que moram longe. Morro de saudades de Londres, da mesma forma que morro de saudades da sensação de ser inteiramente amada, e da época que a Bunker 94 existia. Sinto falta de comer quibe, de fumar maconha e achar que isso expandia meus pontos de vista, e de ser muito magra. Sinto falta de todos os meu amores, mas essa falta varia de acordo com o horário do dia, e com o clima: se faz sol e é meio-dia sinto saudades de um, se chove e são 16:30 da tarde sinto saudades de outro, na meia estação, pela manhã, é a lembrança de um terceiro que surge, e do quarto eu sinto saudades o ano inteiro, o tempo todo, de manhã, de tarde, e de noite.
Hoje, no entanto, quando acordei não senti saudades de nada, senti só um vazio. O vazio que é habitual nos seres saudosos. Talvez seja isso: hoje acordei no presente, sem olhar para o passado, e muito menos vislumbrar o futuro.
Francesca Woodman, autorretrato.
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