sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em busca do tempo

Eu não preciso ler Proust para saber o gosto que uma madeleine tem. Já faz tempo que elas estão por toda parte, acompanhando qualquer cafezinho metido a besta.
Eu não preciso ler Proust para sentir o poder avassalador do ciúme diante de uma janela acesa. Nos dias de hoje, basta espiar algum perfil virtual que elucubrações cascateiam em nossas mentes.
Eu não preciso ler Proust para compreender que somos ambíguos, e que o lugar do homem e o da mulher pode ser trocado a qualquer momento.
Eu não preciso ler Proust para entender o que aconteceu em Sodoma e Gomorra, e os motivos que levaram Deus a destruir aquelas cidades.
Eu não preciso ler Proust para perceber que a memória se perde mesmo quando queremos retê-la.
Eu não preciso ler Proust para confirmar a grandiosidade das composições de Wagner.
Eu não preciso ler Proust para observar como amamos mais as relações do que as pessoas, e que não é raro nos encontrarmos apaixonados pelo ideia de estarmos apaixonados.
Tudo indica que eu não preciso ler Proust. E, tudo indica, que o que foi perdido não volta, pelo contrário, abre espaço para que novas memórias sejam construídas sem olhar para trás.


Pintura de Henri Martin, A Boy with Sailboats.

3 comentários:

VW Nonno disse...

amei. Mas desculpa, vc precisa ler Proust sim. Must read.

Dissolvida disse...

muito bom. nunca li proust, mas acho que devemos sim ler. ainda mais com o comentário de vivian aí de cima! rs

Catarina disse...

me deu vontade de ler Proust.