quinta-feira, 30 de junho de 2011

A incrível arte que foi amar você

Relato adolescente fora de hora, mas ainda a tempo.


Quando dizem que passa, é porque passa mesmo. E se não passa, se transforma, muda, desaparece, só não fica parado no mesmo lugar. O saldo é quase sempre positivo da experiência vivida, basta jogar luz no ponto certo.

Já se foram três anos desde a época em que desenvolvi uma paixão latente-obsessiva por você. Era uma loucura, lembra? Eu tentava achar amor em linhas de e-mails acadêmicos, roubava suas aulas da internet, invejava suas outras alunas.  Eu o procurava entre prateleiras de assuntos que nunca dominei direito, ameaçava atropelar você , eu o chamava de mentiroso. Ouvia a mesma música (Dirty Boots, eu ainda culpo o Sonic Youth por tudo que aconteceu), quantas vezes fosse necessário, para não sair do sonho que tinha criado, e onde, obviamente, éramos protagonistas. Não me lembro quanto tempo durou, mas acho que foi quase um ano e meio, o tempo de um curso inteiro, pensando em você, esperando você, achando, acima de tudo, que era você. Que coisa. Não era. Passou. Um dia acordei e você não estava mais ali, nem na minha vida, nem no meu e-mail e muito menos nas minhas fantasias. O tempo tinha passado, fiz um mea culpa. Sim, eu pirei. Entendi tudo errado. Segui em frente. Só que nem sempre os caminhos são paralelos. Às vezes eles se cruzam, nem que seja por um breve momento. Nossos caminhos se esbarraram algumas vezes, entre corredores e newsletters. Tenho que confessar que nas primeiras vezes foi um pouco estranho para mim. Eu havia tirado você do pedestal, e agora olhava na escala 1:1, com a certeza que amei e me equivoquei. Você mantinha a postura elegante de sempre, temperada por resquícios de uma intimidade que nunca existiu. O trauma foi mútuo, não tenho dúvida, mas de alguma forma superamos.
 Dessa relação que poderia ser só mais uma história esquisita de amor entre tantas a que nos sujeitamos, saiu um trabalho do qual tenho muito orgulho e que nos coloca como parceiros. Sim, o destino quis que selássemos esta história abrindo uma porta para o futuro, no caso, o meu. Você dentro da tal postura me ajudou muito, me fez aprender, ler, crescer, e isso valeu mais que qualquer vã esperança que tenha havido três anos atrás. A qualidade do trabalho final é mérito meu, a boa vontade de deixar qualquer mal entendido no passado é mérito seu.
Esses dias, depois de um convite para um evento que sem dúvida era de muita importância, decidi firmar nosso acordo de cavalheiros de  que o que  passou, passou. Respirei fundo e fui prestigiá-lo. Não fiquei nervosa, não tive taquicardia e nem boca seca Não pude, no entanto, conter o rubor, meu denunciador máximo. Eu o parabenizei pelo feito, mas o tom vermelho das maçãs do rosto, que surgiu à sua frente, tinha uma razão de ser. Na verdade, eu queria lhe dizer duas coisas: Desculpa e Obrigada. Desculpa não pelo que senti, que acredito que nunca mais vai se repetir, por ninguém, do mesmo jeito, mas pela forma como agi, e obrigada, porque olho para trás e me sinto agradecida. 
 Hoje em dia posso dizer que não só sinto respeito e admiração por você, como talvez um certo carinho. O que você provavelmente nunca saberá é o tamanho da gratidão. Ao me apaixonar louca e infrutiferamente, me tornei uma pessoa melhor, e isso é mérito nosso. 


*  Fazia muito tempo que não ouvia essa música. Verdadeiramente emocionada.

2 comentários:

Dissolvida disse...

nossa! que lindo isso, super!!! poucas pessoas conseguem falar assim de forma tão sincera de um amor passado não correspondido.
você é uma pessoa especial, e com certeza ele percebeu isso, mesmo não te amando como você queria. é quase impossível não perceber o quanto você é especial!

VW Nonno disse...

Paixão e compaixão. Palavras com pouca diferença na formação, mas um mundo de diferença entre elas. Querida Jeanne, você conjuga as duas. Nunca a paixão egoísta, que busca apenas sua satisfação, mas a paixão compassiva, que procura reconhecer o outro, e entendê-lo. A conjugação desses dois atos faz com que você pelo segundo, possa estragar o primeiro. Mas Mme. B tem razão. É essa spoiling quality e o amor maior que ela traduz, que faz vc ser o que é.