Ou eu me acho realmente uma coisa precária e pestilenta, ou tem muita gente que faz do óleo de peroba, elixir da empresa King, máscara de tratamento noturno. No atual universo díspare da autoestima, acredito só existir essas duas modalidades. No que concerne o mundo da internet, cada vez mais é comum que as pessoas e instituições escrevam qualquer coisa, sem o menor pudor de soarem um tanto patéticas. Acabo de ler umas das coisas mais vaidosas e egocêntricas dos últimos tempos, e pior, com o aval da grande maioria dos leitores dizendo que é engraçado e uau! Céus! Não se faz mais cultura neste país sem colocar uma melancia no pescoço? Se o fato de ser minimamente intelectual (porque os de verdade são poucos e nunca aparecem) justifica vomitar nomes, referências, citações e acreditar realmente que se tem um parafuso a mais, então desculpa, está tudo muito errado e segregado.
Valorizo qualquer iniciativa pró cultura em um país onde ainda temos 16 milhões de analfabetos, e mesmo os que foram alfabetizados não lêem, não vão ao teatro, não vão ao cinema, nunca foram a um museu. Valorizo, principalmente, porque quando é dada a oportunidade de conhecimento a alegria é visível, quiçá palpável, como se pode ver em uma tarde dentro da Bienal do Livro ou numa exposição como a do Escher, recentemente no CCBB (talvez soe discurso de esquerda festiva, mas é de fato bonito). Quando estava na 6ª série de um colégio piagetiano de elite, um professor de história repetia para nós, à exaustão, a máxima: "A única coisa que nenhum homem nos tira é a nossa cultura, essa a gente leva para o caixão". Eu acredito, e concordo muito com essas palavras, que assim como me tocaram, devem ter tocado muitos outros colegas. Porém, creio, também, sinceramente, que ninguém é melhor do que ninguém porque leu Finnegans Wake no original, papel puído e com manchas de leite da mamadeira de Lucia Joyce, ou porque sabe escrever todos os títulos dos filmes do Tarkovsky em cirílico. Se a cultura em nosso país se tornou, descaradamente, um sistema oligárquico e de diferenciação social, então não vejo muita distinção entre os novos cultos e os novos ricos, elite essa não muito pensante, que pendura diamantes no pescoço e passeia na Dias Ferreira em seus carrões: desses, pelo menos, já sabemos o que esperar.
Em contrapartida a esse cenário semi-provinciano que se monta, apoiemos os que perguntam "curte poesia ?", os que dançam cavalo marinho, os que ficam felizes por pedirem na festa de amigo oculto da empresa um dos livros da saga "Crepúsculo". Porque esses, coitados, no atual sistema de castas são dalits. A cultura pode até ser um diferencial, mas juro que ainda acho a elegância e a humildade qualidades mais importantes.
Despossuída de mídias sociais, só me resta desabafar aqui. Amanhã já estaremos com nossa programação normal.
3 comentários:
Vale comentário hippie?
Meu mundo é do abraço. E isso é o, de verdade, vale. Ponto.
Gosto especialmente dos novos cultos, os exibidos da cultura. Bem pensado, Bel!
Quem sabe, sabe, já dizia uma grande amiga minha. E sabedoria é, sim, inimiga da exibição. Ou pelo menos prefere mostrá-la "en cachette".
Bebel, assino embaixo de tudo que você disse. Menos papinho blasé e mais autenticidade! Menos carão e mais diversão!
Virei fã do blog!
Beijão,
Amanda
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