
Desde pequena tenho uma relação estreita com o mundo dos livros. Me lembro de ir com minha mãe na livraria Malasartes, e de gastar um tempo precioso sentada na mesinha de ferro vermelho, com banco estofado em xadrez branco e verde onde ficava lendo, até que umas das histórias me pegasse de jeito e minha mãe acabasse comprando, para assim ela ler e reler para mim inúmeras vezes. O fascínio pela livraria era tão grande, que foi lá que cometi meu único e pequeno furto infanto-juvenil: um adesivo metalizado de colombina, e foi sobre ele o tema da minha primeira confissão.Um pouco maior, me lembro de ir visitar o dono da livraria Timbre, a única livraria de adulto do bairro. Ele era muito simpático comigo, e a pequena livraria tinha um cheiro fortíssimo de livro novo, carpete e cigarro. Não gostava muito de lá, não tinha livro para gente "pequenininha", mas minha mãe era amiga do dono e o companheirismo nos passeios pelo shopping era completo. Alguns anos depois, tivemos uma livraria de rua que tinha um espaço muito bacana. Lá também não havia livros para minha então idade, mas tinha um degrau para cima, e alguns para baixo, porque a Gávea enche em dias de chuva. Na Bookmakers eu ia para lançamentos e ficava atrás dos garçons avaliando o que tinha nas bandejas. Convenhamos que comida enche mais os olhos do que livro. Além dessas que eu ia com frequência, tinha uma outra em Ipanema que guardo na lembrança com muito carinho. Ipanema eram os passeios pós fonodióloga. Na Dazibao a grande emoção era comprar os livros do Wally, fenômeno na minha infância, lá que comprei toda a minha coleção.
Por destino ou por opção mesmo, acabei escolhendo na vida profissional trabalhar com imagem. Durante alguns anos deixei de lado o que para mim era tão natural e cotidiano. Falta de tempo? namorados de outras áreas? não sei explicar o que me distanciou dos livros, só sei que me distanciei... a única sensação que permaneceu invicta foi a alegria de ir a Bienal do livro. Hoje em dia, nos meus 26 anos, me arrependo um pouco dessa pausa que aconteceu. Observo colegas, amigos, desconhecidos, e fico pensando aonde eu estava que não aproveitei da salinha ao lado do meu quarto, em casa, abarrotada de livros? A mesma salinha que agora eu frequento, e pego a cada dia um livro novo, como se o simples traslado da prateleira para a mesa de cabeceira já fizesse com que eu tivesse lido todo o conteúdo daquele objeto quase sagrado.
Esses dias vi um filme que já tinha me sido indicado inúmeras vezes. Guardo na cabeça a imagem do altar do Balzac, que foi a que mais me cativou. O menino se apaixona pelos livros do Balzac e resolve fazer um altar, como se aquele que o fizesse sonhar fosse um santo. E talvez seja, porque não? E levando em consideração que é, faço a ele as minhas preces para que esse renascer para os livros nunca se apague novamente.
3 comentários:
Bel, a cena do Balzac também é uma das minhas favoritas. Há um detalhe, porém, que lhe escapou: você, sem saber, nunca se afastou dos livros. Os livros são fontes inesgotáveis de imagens, que nascem nas palavras e se formam em nossa mente. Quem absorve imagens e constroi, com elas, histórias do cotidiano, faz um percurso literário, sem perceber. Um dia, as imagens brotam e saem, como nesse blog.
Bel, também tenho o Wally como memória de infância. Como adroávamos ficar procurando aquele homenzinho em um livro gigante. Acho que nós duas fomos criadas assim, pequeninas em meio aos grandes livros de nossos pais.
Parabéns pelo post,
um beijo, Gê.
pô... fiquei emocionado aqui. que texto bonito querida, sei nem o que dizer. também procurei muito pelo wally, disputando na rapidez do olhar com a minha irmã. lembro que no evento da bienal era quando eu mais tinha a impressão de que minha mãe era rica, sem saber que ela só achava que aqueles eram os objetos que mais valiam a pena.
beijos, Leo.
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