Mas (
aqui a conversa vai adquirir um tom infinitamente mais íntimo) fala-se agora das boas relações que Solange conseguiu estabelecer com certas alunas mais atraentes que as outras, mais bonitas, melhor dotadas. Ela devaneia. Suas palavras são ouvidas muito próximo dos lábios. De repente, ela se interrompe, mal a vemos entreabrir a bolsa e, descobrindo uma coxa maravilhosa, ali, um pouco acima da cinta-liga escura... "Que é isso! Você não se drogava! - Não, mas agora, que remédio". A resposta é dada num tom de lassidão lancinante. Como que se reanimando, Solange indaga, por sua vez: "E você... como vai? Conte-me". Também aqui apareceram
novatas muito bonitas. Principalmente uma. Tão meiga. "Veja só, querida". As duas se debruçam demoradamente à janela. Silêncio. UMA BOLA CAI DENTRO DA SALA. Silêncio. "Foi ela! E vem cá buscar. - Você acha? " Ambas de pé, encostadas na parede. Solange fecha os olhos, relaxa, suspira, fica imóvel. Batem na porta. A menina de há pouco entra sem dizer nada dirige-se lentamente para a bolsa, olhos nos olhos da diretora; caminha na ponta dos pés. Cai o pano. - No ato seguinte, é noite, numa ante-sala. Passaram-se algumas horas. Um médico, com sua maleta. Foi constatado o desaparecimento de uma das meninas. Tomara que não lhe tenha acontecido alguma infelicidade! Todo mundo se agita, a casa e o jardim são vasculhados de cima a baixo. A diretora, mais calma ainda que antes."Uma menina tão meiga, meio triste talvez. Meu Deus, e a avó dela, que há poucas horas estava aqui! Acabo de mandar chamá-la". O médico, desconfiado: em dois anos consecutivos, um acidente no momento da partida das alunas. No ano passado, a descoberta de um cadáver no poço. Este ano... O jardineiro, vaticinando e balindo. Tinha ido procurar no poço. "Engraçado: por ser engraçado, é que é engraçado".
* Nadja - André Breton.
Fotos de Paul Nougé - surrealista, fotógrafo, poeta, filósofo e belga.
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