quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Do que se sente quando falam de janelas

Sonhei, em um domingo azul, que deixava minha janela aberta para você entrar, e você, como em uma transmissão de pensamento, entrava, um tanto hesitante, envergonhado, sem saber que tipo de recepção ia encontrar. Eu fingia indiferença com sua chegada sorrateira, e preparava um café enquanto perguntava de forma banal sobre coisas da vida. Você olhava ao redor, via que algumas coisas tinham mudado de lugar, mas que sim, era o mesmo lugar onde sempre nos encontravamos. Eu sentia a sensação boa de ter você ali perto, passado tanto tempo, com o mesmo jeito, com o mesmo cheiro, com a mesma forma engraçada de falar, mesmo que você não tivesse muito o que me dizer, o que não me incomodava, afinal, eu também não sabia nem por onde começar. Sentei na rede e fitei você com o queixo para cima tal qual um galo de briga, e você ajeitou minha franja que tinha sido cortada recentemente e me disse baixinho: "Se voltei, mulher, é porque sou louco por você". Foi então que baixei a cabeça, e pela primeira vez,em anos, aceitei nosso último silêncio, havia um pacto selado no ar. Ficamos ali, eu e você, aninhados, balançando e olhando pela janela enquanto uma brisa fresca fazia cosquinha na cortina.Quando acordei, era saudade que não cabia dentro de mim.

** Sob o efeito de "Sonhei de cara", "Quando fugias de mim", "Anunciação", "Tomara" e "La belle de jour" do Alceu Valença **

 Foto de: Spaceskull

2 comentários:

VW Nonno disse...

Tu vens.Eu te anuncio nos sinos das catedrais.

Mariabia disse...

Eu ia comentar o trecho da vivian! :)
Mas fora isso, só pensei que gostaria muito de ter esse sonhado esse sonho.