domingo, 1 de maio de 2011

Ponto para SP e eu sussa

Ontem fui à despedida de um grande amigo, do primeiro namorado, de um dos ombros mais sinceros e espinhosos para se chorar. Caderninho para desejar coisas boas e fazer com que o viajante saiba que em seu lugar de origem todos o amam. Algumas lágrimas dos mais emotivos, bebidas, risadas e um voto de amor e fidelidade a Guanabara. Um certo ar de inconformismo: "Mais um??!", mas fazer o quê? Segue o baile. Depois de uma grande amiga, um namoro na BR 116, como exemplos mais viscerais, eu sei que SP está ali, bem perto, atraindo e repelindo, neste movimento constante, é só não pensar muito. Vai!  eu acho que você vai ser feliz.


“Ninguém ampara o cavaleiro
do mundo delirante”
Murilo Mendes

Eu te ouço rugir para os documentos e as multidões
   denunciando tua agonia as enfermeiras
   desarticuladas
A noite vibrava o rosto sobrenatural nos telhados
   manchados
Tua boca engolia o azul
Teu equilíbrio se desprendia nas vozes das alucinantes
   madrugadas
Nas boites onde comias pickles e lias Santo Anselmo
   nas desertas ferrovias
   nas fotografias inacessíveis
   nos topos umedecidos dos edifícios
   nas bebedeiras de xerez sobre os túmulos
As leguminosas lamentavam-se chocando-se contra o
   vento
   drogas davam movimentos demais aos olhos
Saltimbancos de Picasso conhecendo-te numa viela
maldita e os ruídos agachavam-se nos meus olhos
turbulentos resta dizer uma palavra sobre os roubos
enquanto os cardeais nos saturam de conselhos
bem-aventurados e a Virgem lava sua bunda imaculada
na pia batismal
Rangem os dentes da memória
segredos públicos pulverizam-se em algum ponto da
América peixes entravados se sentam contra a noite
O parque Shangai é conquistado pela lua
adolescentes beijam-se no trem-fantasma
sargentos se arredondam no palácio dos espelhos
Eu percorro todas as barracas
   atropelando anjos da morte chupando sorvete
os fios telegráficos simplificam as enchentes e as secas
os telefones anunciam a dissolução de todas as coisas
a paisagem racha-se de encontro com as almas
o vento sul sopra contra a solidão das janelas e as
   gaiolas de carne crua
Eu abro os braços para as cinzentas alamedas de
   São Paulo
e como um escravo vou medindo a vacilante música
   das flâmulas

Poema de ninar para mim e Bruegel, Roberto Piva







Um comentário:

VW Nonno disse...

ombro espinhoso? consola mas espeta? para mim será sempre Fafa, um bichinho de pelúcia em forma de rinoceronte...