sábado, 27 de novembro de 2010

Despedir-se

Eu não sei quem você é. Eu não sei do que me despedir. Volto para relembrar o que eu sentia, mas a lembrança começa a me fugir. Que angústia. Os solavancos da realidade me fazem passo a passo concluir que não foi tanto assim, mais uma vez eu supervalorizei migalhas, e que tudo é tão vazio de significados. Será? mas eu li certo nas entrelinhas, estava escrito, existem evidências de tudo que aconteceu, pessoas viram, minha sapatilha vinho, minha sandália marrom, meus escarpins azul e preto e meu sapato boneca estiveram lá. Meus esmaltes, em sua maioria azuis, minhas meias calças prateadas, meu vestido com decote nas costas, que até hoje mantenho intacto como na última noite que te vi, guardam um pouco de você. Acima de tudo, senti tudo que se passou. Eu senti, e muito, cada avanço, e, mais ainda, cada recuo dessa longa jornada . Porque agora todo aquele mundo mirrou, e eu nem sei o que guardar de tudo isso? Foi realmente um mero exercício de linguagem? Eu nunca fui de fato uma opção? Eis que finalmente aceito que não. Você é minha Odette e eu sou seu Swann*

* Baseado na palestra sobre "Romance" do projeto Eu, o leitor. Análise de " O amor de Swann"

Nenhum comentário: