Ao abrir a porta displicentemente vejo teu corpo estendido no chão da memória. Fecho a porta, abro um pouco, dou uma espiada, imóvel, passo por cima de você deixando o ângulo de baixo para cima bem obtuso para que você veja meus fundilhos.
Morreu? Espero que não.
E se tiver morrido, o que vou fazer? Não rola mais de chorar a essa altura do campeonato.
Te chuto, mando parar com a brincadeira, não tem graça nenhuma, você sempre morre, eu borro a maquiagem, digo que te amo, que é o homem da minha vida, que te espero, sinto raiva e você fica sempre com a mesma cara de parvo que teus pais te deram a me olhar, com um riso frouxo semi-débil que é sua marca registrada.
Tô cansada, anda, para com a palhaçada. Levanta, volta para ela, para outra, para quem você bem entender, já não ligo, já não faz diferença, já acabou. Eu não vou pedir mais uma vez, levanta.
Ok. Deito ao seu lado, olho para você, sussurro no teu ouvido: vai se foder, seu doente!
Nada.
A verdade, no entanto, é que fico com pena desse desfecho gelado que você se tornou, te dou a mão, que saco ter que salvar sempre essa história.
Nada.
Me levanto, cansei de ser patética. Vou embora, fecho a porta, cuspo na soleira, olho para você e concluo: "Hei, psiu, Presunto? Você não entende que virou parte do meu ser? Pois bem, saiba que você jaz em mim".
Um comentário:
você jaz(z) em mim é lindo!
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