segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O vácuo

" Em dias frios, acho que penso um pouco sobre quanto está frio. E no dias quentes, como faz calor. Quando estou triste penso um pouco sobre tristeza. Quando estou feliz, penso um pouco sobre felicidade. Como já mencionei, lembranças aleatórias me vêm à cabeça, também. E ocasionalmente, muito difícl, sério, tenho uma ideia para usar em um romance. Mas na verdade quando corro não penso em quase nada que seja digno de mencionar.
Apenas corro. Corro num vácuo. Ou talvez eu deva me colocar de outra forma: corro a fim de conquistar um vácuo. Mas, como seria de se esperar, um pensamento ocasional vai invadir esse vácuo. A cabeça de uma pessoa não consegue se manter um vazio completo. As emoções humanas não são fortes ou consistentes o bastante para sustentar um vácuo. O que quero dizer é que o tipo de pensamentos e ideias que invadem minhas emoções quando corro permanece subordinado a esse vácuo. Na falta de conteúdo, eles não passam de pensamentos aleatórios que giram em torno desse vácuo central.
Os pensamentos que me ocorrem quando estou correndo são como nuvens no céu. Nuvens de todos os tamanhos diferentes. Elas vêm e vão, enquanto o céu continua o mesmo céu de sempre. As nuvens são meras convidadas que passam e vão embora, deixando o céu para trás. O céu existe ao mesmo tempo em que não existe. Possui substancia e ao mesmo tempo não. E nós meramente acolhemos essa vasta expansão e nos deixamos embriagar." - Do que eu falo quando falo de corrida - Haruki Murakami