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Há uma mulher. Ela me ama. Embora não tenha isso muito claro. Preciso conscientizá-la o tempo todo. Quando estamos no banco de trás de um táxi, eu a abraço e sussurro palavras ardentes em seu ouvido. Intensifico a impotência do meu corpo nas curvas. Quando estamos comendo, eu olho para ela, em seguida para o prato, depois de novo para ela. Nessas horas eu a viro pelos ombros, para lá! para lá! para acolá!, digo, por exemplo, porém ela, imagino, só consegue pensar nos próprios ombros. Compro-lhe bombons regularmente, em especial os recheados de conhaque. Ou a vejo sobre a cabeça das pessoas, quero dizer, do outro canto do recinto. Às vezes fecho os olhos. É bela como uma fada, uma heroína de Krúdy.("As narinas se moviam como se ela fosse uma potranca trêmula que ainda não conheceu seu cavaleiro.") Nas coxas dela se assentam pelinhos que pela sua distribuição conduzem para dentro. Busco nelas esses pelos deitados como as folhas de grama às margens do riacho, por todo lugar, nas penugens do rosto, nos barbantes debaixo dos braços, nas sobrancelhas densas, apenas isso me importa mas eu só terei uma chance se ela não tiver medo de mim. Por isso eu a habituo a mim e eu me habituo a ela.
Foto de Helmut Newton
Para Rodrigo.
Um comentário:
lindo.
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