
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
Um comentário:
tô bolada...hj é o dia internacional (mesmo) das coincidências. antes de sair de casa no rio pro aeroporto eu abri um livro do ferreira gullar numa página aleatória e li ESSE poema! E eu acabei de entrar no blog da Marcia e descobri que a gente tem uma bota igual, fim.
lovelovelove
Postar um comentário