(...)
Na maioria dos dias, eu fazia as mesmas coisas. Sair para comprar ovos e café, caminhar sem rumo pelas extraordinárias ruas de pedras ou descer até o passeio de olhar o East River, a cada dia forçando um pouco mais, até chegar ao parque em Dumbo, onde aos domingos você via casais de noivos porto-riquenhos vindo tirar fotos de casamento, as garotas em enormes vestidos esculturais verde-limão e fúcsia que faziam tudo o mais parecer cansado e sério. Manhattan do outro lado da águas, as torres reluzentes. Eu estava trabalhando, mas não tinha nada para fazer depois. Os momentos ruins vinham no início da noite, quando eu voltava para meu quarto, sentava no sofá e assistia ao mundo fora de mim passando através do vidro, uma lâmpada de cada vez.
Eu queria muito não estar onde eu estava. Na verdade, parte do problema parecia ser que onde eu estava não era lugar nenhum. Minha vida parecia vazia e irreal, e eu estava constrangida com sua estreiteza, como alguém que se sente constrangido por vestir uma roupa manchada ou puída. Eu me sentia como estivesse em risco de desaparecer, embora ao mesmo tempo os sentimentos que eu tinha fossem tão crus e opressivos que, com frequência, eu desejava poder encontrar uma maneira de me perder completamente, talvez por alguns meses, até a intensidade diminuir. Se eu pudesse pôr em palavras o que estava sentindo, as palavras seriam um choramingo de criança: Eu não quero fica sozinha. Eu quero alguém que me queira. Eu estou solitária. Estou assustada. Preciso ser amada, ser tocada, ser segurada. Era a sensação de necessidade o que mais me amedrontava, como se eu tivesse levantado a tampa de um abismo implacável. Eu parei de comer muito e meu cabelo caía e ficava visível no chão de madeira, aumentando minha inquietação".
(A cidade solitária: Aventuras na arte de estar sozinho - Olivia Laing - Ed. Rocco)
Nenhum comentário:
Postar um comentário