domingo, 23 de agosto de 2009

Deu Brian Eno no Samba


Era a feijoada do cafetão mais famoso dos restaurantes a quilo da cidade, o PIMP das balanças. Era a feijoada do Sr. Salpicão. Salpicão cujo nome dispensa apresentações, resolveu dar uma festa e chamar a nata da gastronomia de massa. Na entrada da festa, vestindo black tie, estavam seus capangas que faziam as honras e não arredavam o pé da porta (ou seria horta?) : Jiló, Quiabo e Maxixe. Eles eram os responsáveis por revistar as visitas, se meter onde não deviam e, conseqüentemente, receber cara feia de quem só estava lá para curtir o evento. Esses três fiéis capangas já tinham ficha no presídio famoso Xepa I, aquele que anos depois foi implodido e onde construíram o XepaII. Sr. Salpicão arrumou um esquema com o Varejão Volante às quinta-feiras, e conseguiu tirar eles de lá sem que ninguém percebesse a fuga dentro daqueles ônibus vegetal orgânico, que por si só já era suspeitíssimo. Por via das dúvidas, o experiente Salpicão se certificou de molhar as mãos dos policias no caminho com algumas laranjas limas, que foram recebidas de bom grado, já que são ricas em vitamina C, ajudam no trato gastrico e são ótimas para quem tem filho pequeno.

A festa corria bem, todos estavam se divertindo muito, a família Brocolis sentou-se na mesa dos Couve-Flor, e trocaram juras falsas de amor, aquela coisa de familiares que não fazem questão nenhuma de se frequentar, mas quando estão em público se esforçam em mostrar a todos a união e a sintonia que reina, quando se vem de baixo. Alías, esse momento da festa foi um pouco tenso. Os Brócolis e os Couve Flor começaram um discurso chatíssimo das minorias sociais, e de como eles lutaram muito para chegar ao patamar de essenciais legumes antioxidantes. As famílias das Beterrabas, Rabanetes e Nabos, se levantaram e em coro falaram que eles não sabiam o que era ser excluído pelos demais. A Beterraba deu um relato emocionadíssimo de como há anos ela vem sendo escondida no feijão, para que assim ninguém a perceba, e o Nabo fez o almoço quase acabar quando disse que sua maior utilidade era tirar manchas de Shoyu. Ficou um clima muito tenso entre todos, e o Sr. Salpicão a essa altura já estava achando que ia azedar.

Tudo voltou ao normal, quando a turma Hidropônica, com o maior jeitão de turma do deixa disso, chegou cantando uns mantras, dizendo que todos eram filhos da mãe natureza e que isso era culpa da Babilônia transgênica. O tomate que entrou para o ALFV (associação dos legumes & frutos viciados), concordou e disse para alegria de todos que fazia duas safras que ele abandonara o uso de pesticida. A festa a partir daí foi só diversão, todos dançaram muito! teve desfile da Mangueira com a porta bandeira Carlotinha e o mestre-sala Espada, porque feijoada que é feijoada tem que ter samba e palinha do Jamelão. No fim da noite, para fechar com chave de ouro, o Mc Repolho e o Mc Banana soltaram uns versos e trouxeram para o palco a mulher Melancia, a mulher Sapoti e a mulher Siriguela. Foi um desbunde de não botar defeito.

Acabado os shows foram entregues lembrancinhas de recordação, a mulher do Salpicão pensou em tudo e mandara fazer uns bem-casados de adubo orgânico. Todos só tinham elogios a fazer, e diziam: Festa boa fui no Salpicão! No entanto, ninguém conseguiu se despedir do anfitrião. Este coitado, começou a se sentir mal ainda no calor das discussões, percebeu que aquele suruba gastronômica que faz parte do seu ser não ia bem, e que aquela maionese tava desandando. Para o pobre infeliz deram um sal de frutas Eno, e deitado ele ficou, gemendo, dizendo que nunca mais comeria nada, que se arrependia do dia que tinha nascido e que ia matar quem tinha colocado o abacaxi em calda, porque ele já cansou de dizer que o abacaxi dele tem que ser fresco! Não viu nada, ficou dormindo em um leito de batatas baroas.

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