sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal em família

Se Clarice Lispector e Fellini estivessem vivos, existiria ou um conto ou um filme sobre o Natal das minhas famílias. O meu amor pelo Natal é tão grande, que não sobra nada para o Ano Novo. Pois bem, lá fui eu subir a serra e me deliciar com aquela suruba gastronômica.
Dia 24, como de praxe, passei com minha família materna, família miúda e intelectual. Até horas antes da ceia todos, com seus respectivos óculos na cara, liam seus livros, seja de horoscópo chinês de 2009, de receita, de vampiro, chick lit, literatura japonesa ou crítica de arte. A ceia foi farta e fina- um bom nome de restaurante Farto & Fino- comemos, brindamos, seguramos a onda para não chorar pela ausência do meu avô. Tudo com muita elegância. Ganhamos bons presentes, e fomos dormir, todos felizes, rosados e nos amando. Família pequena é bom que traz uma segurança enorme. Sempre me lembro, em meu pensamento trágico, de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, e acho que se o mundo acabasse ali, estaria tudo bem.
Dia 25, aí, sim, entra Fellini. Natal na casa dos Nonno é igual há pelo menos 25 anos. Além de Natal é aniversário da minha tia, ou seja, animação em dose dupla. Chegamos para o almoço em família, e para variar o almoço não estava pronto, a dona da casa e aniversariante se encontrava às voltas com rabanadas e minha vó estava na sua cadeira de rodas achando alguma forma de sacanear a enfermeira. Como é bom estar em casa. Pois bem, não sei o que acontece na minha família que a grande preocupação é com minha vida sexual, não é só minha, mas a minha e das minhas primas. Somos 7 que temos que passar por um paredão, para saber por que a "pixirica da vovó" não tem dono. Sinceramente não sei o que é pior, se é encarar o coro mudo familiar cantando: vai pra titia, vai pra titia, ou se é levar o pretendente para encarar os narizes. Já estive no outro lado ( infelizmente esse ano era eu e mais duas solteiras, só que elas são bem mais novas), e o questionário é sempre o mesmo: "Você é católico?" "não?!!!" "Vai se converter né??!!" "Trabalha?" "Como é sua família?" "Seus pais são separados?" "menor de idade?" não tem irmãos??" "gente estranha, não adianta, é difícil arranjar gente como a gente".... é verdade parentes... dificílimo! Dessa parte fui poupada, mas o coro crescia e todos perguntavam: "Tá sem namorado?" " por que?" "nenhum amigo do amigo?" "mas você é muito exigente!!!" "Isabel, não sabe dar mole por isso tá sozinha.." Cansada e apetitosa, me satisfiz com as rabanadas salgadas (sim na minha casa a bichinha vem com sardinha dentro e é uma delícia), antes de dizer que tudo bem, pelo menos sou empregada e pós graduada. Fim. O que mais podia dizer?! Disse isso com a boca cheia, gesticulando bastante e todos olharam e pensaram: vai pra titia, vai pra titia...
O almoço foi servido. Aguardo ansiosa a chegada do Chester, minha ave favorita, que nunca vi viva! Comi aquilo, com farofa, arroz, fio de ovos, salpicão e arrematei com pavê. Só posso concluir que em dezembro o corpo humano produz uma quantidade extra de bile, porque em qualquer outra época do ano estaria verde no segundo item. Enquanto isso, meus 6 tios, abordavam os temas clássicos: Religião, funcionarismo público (um viva a Minerva), sexo e comida. Minha primas sentadas na mesa das eternas crianças, falavam com seus namorados e eu, sonolenta, fui dormir, entre umas bonecas e papel de presente, que não sei porque todos guardam e nunca usam. Acordei e fui fazer o habitual: catar os salgadinhos do aniversário. Aniversário em Miguel Pereira tem disputa de salgadinho, bolo da Nelly e parabéns da Xuxa, que toca no mínimo 3 vezes, seguido do clássico: A chuva cai, a rua inunda, ô Maria Arlete eu vim comer seu bolo.
Com estafa pancreática, catei meus presentes: uma toalha, uma muda de árvore, um chaveiro e uma garrafa de vinho canônico e fui para casa. Feliz da vida. Como é bom Natal e como eu amo minha família, por mais bizarra que ela seja, ou não. Afinal, para eles eu é que sou quase um ET.
Uma pequena observação.
Voltei de ônibus, e sempre me pergunto: Por que as pessoas levantam antes do ônibus parar?

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